quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Mulheres à beira de um AVC!


Quem está em risco? Como prevenir um Acidente Vascular Cerebral? E se acontecer, como agir?

Todos nos espantámos ao saber que a escritora Margarida Rebelo Pinto, de 41 anos, tinha tido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Inesperado, mas sem sequelas maiores, graças à rápida assistência hospitalar. E voltámos surpreender-nos com a notícia de que a agente da banda Xutos & Pontapés, Marta Ferreira, de 44 anos, falecera no Aeroporto de Lisboa após uma paragem cardíaca, quando o grupo se preparava para se deslocar a Toronto, no Canadá.

Estarão as mulheres na faixa dos 40 anos mais vulneráveis às doenças cardiovasculares do que pensamos?

A possibilidade de ocorrência de tumor maligno na mama ou no colo do útero já preocupa, e bem, uma boa percentagem de mulheres que se mantêm cada vez mais atentas quer aos sintomas quer à necessidade de realizar exames periódicos de vigilância, como a mamografia e a citologia (exame Papanicolau). Mas o mito de que as doenças cardíacas e vasculares afectam sobretudo os homens ainda persiste, apesar de estas patologias serem as que mais portugueses matam todos os anos: homens e mulheres.

Em Portugal, o AVC afecta três pessoas por hora, 54 por dia e 20 mil por ano; 13 em cada 100 homens e 8 em cada 100 mulheres com 54 e mais anos irão ter um AVC nos próximos 10 anos. São estes os resultados de um estudo apresentado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, no ano passado, que envolveu mais de 70 centros de saúde e cerca de nove mil pessoas.

Nas mulheres, as doenças circulatórias desenvolvem-se mais tardiamente, mas em idades em que são mais fatais. Os homens estão mais sujeitos a ataques cardíacos (enfarte do miocárdio), que ocorrem, em média, 10 anos antes das mulheres. Mas as mulheres estão mais sujeitas a AVC, à medida que se aproximam da idade da menopausa. Em parte, devido às alterações hormonais, nomeadamente à perda do efeito protector do estrogénio.

“As diferenças entre os sexos estão a esbater-se”, admite, no entanto, o cardiologista Armando Pereirinha. “Se, até recentemente, se falava pouco deste tipo de ocorrências em mulheres, sobretudo em jovens, a alteração dos ‘estilos de vida’ tem aproximado homens e mulheres no risco destas patologias.” Um risco que, “em certos locais de prestação de cuidados de saúde, é tido como menor” e que inspira “alguma preocupação” ao professor do Instituto de Medicina Preventiva, da Faculdade de Medicina de Lisboa.

“O principal problema das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares é exactamente esse: o facto de poderem ir progredindo sem sinais detectáveis, podendo, inclusive, atingir estádios bastante avançados e permanecer com- pletamente assintomáticas”, explica o médico.

Factores de risco
Um AVC acontece quando as células cerebrais morrem ou deixam de funcionar, normalmente por falta de oxigénio e nutrientes, quer devido ao bloqueio do fluxo de sangue quer por serem inundadas de sangue quando uma artéria se rompe.

No primeiro caso, o mais comum, a interrupção do fluxo sanguíneo provoca um AVC isquémico. Ou causado por uma “trombose”, quando um coágulo se forma numa artéria principal do cérebro e a obstrui, ou por uma “embolia”, quando um coágulo se forma no coração ou noutro local e se solta na circulação, obstruindo uma artéria cerebral.

No segundo caso, a ruptura da artéria dá origem a um AVC hemorrágico, ou seja, a um “derrame” no cérebro.

O risco de AVC aumenta com a idade. E está igualmente relacionado com a história familiar. Em Portugal, cerca de 30 por cento de doentes a quem foi diagnosticado um AVC tem pelo menos um familiar afectado pelo problema, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Acidente Vascular Cerebral (SPAVC).

Certos grupos étnicos correm também um maior risco de ter um AVC. As pessoas oriundas da África Ocidental e das Caraíbas vêem esse risco duplicado relativamente aos de origem caucasiana.

Ser hipertenso (ter uma pressão arterial elevada persistente, superior a 140/90 mm Hg) envolve um risco quatro a seis vezes superior ao de alguém com uma pressão arterial normal (de ±120/80 mm Hg). E ter diabetes aumenta o risco em cerca de três vezes. Algumas doenças cardíacas, em especial as que produzem certas arritmias, constituem factores de risco de AVC. Batimentos cardíacos alterados provocam uma corrente sanguínea irregular, originando a formação de coágulos sanguíneos, que podem viajar até ao cérebro.

Ter um colesterol elevado, não praticar actividade física e ser obeso exponencia o risco de diabetes, hipertensão arterial e arteriosclerose, e assim o risco de AVC. Tal como fumar, já que o fumo promove a arteriosclerose e aumenta os níveis de coagulação do sangue. Um risco que é acrescido no caso das mulheres que tomam a “pílula”.

O álcool, quando consumido em excesso, aumenta a pressão sanguínea (apesar do consumo diário de pequenas doses ter um efeito positivo na diminuição da coagulação).

E o uso de certas drogas também acentua o risco de AVC. É o caso da cocaína, que provoca arritmias e a aceleração do ritmo cardíaco, que podem levar à formação de coágulos. E também da Cannabis, que é tida como “droga leve”, mas diminui a pressão arterial e, juntamente com outros factores de risco, contribui para níveis de pressão sanguínea flutuantes, que potenciam a ocorrência de AVC.

Prevenção: mitos e verdades
A aspirina constitui um importante agente de prevenção mas, note-se, apenas do AVC isquémico. “Se o risco for de um AVC hemorrágico, então até estará contra-indicado. Além disso, a aspirina pode potenciar a ocorrência de hemorragias gastrointestinais, pelo que só um médico está habilitado a decidir em que casos a prescrição é ou não indicada”, esclarece Armando Pereirinha.

O cardiologista garante ainda que não existe qualquer comprovação científica de que vitaminas ou outras abordagens antioxidantes têm uma importância preventiva. E no caso da terapêutica hormonal de substituição (THS), em mulheres na pré-menopausa, garante que “até se verificou um efeito nocivo, não existindo qualquer indicação para a sua toma por risco cardiovascular”.

As medidas de prevenção passam pelo controlo geral da saúde cardiovascular: alimenta- ção equilibrada – pobre em sal, açúcares e gorduras saturadas –, consumo ligeiro de álcool, exercício físico e ausência de tabaco. Mas também pela vigilância regular dos níveis de ten- são arterial, colesterol, triglicéridos e açúcar no sangue.

Um exame clínico “de saúde” anual deve incluir a realização de um electrocardiograma, para avaliar o ritmo cardíaco. Se o médico quiser aprofundar o diagnóstico ao coração, poderá solicitar a realização de uma ecocardiografia (ecografia cardíaca), um Doppler cardíaco e uma Prova de Esforço. A ecocardiografia constitui o método mais frequente e importante, pois permite estudar a anatomia e o funcionamento do coração e a detecção de defeitos congénitos, tumores e doenças do miocárdio, entre outras.

Sintomas e sequelas
Os sintomas do AVC vão ser determinados pela zona do cérebro atingida pelo défice de circulação. Se afectar zonas vitais, que controlam a respiração ou o coração, poderá ser causa de morte súbita. Se for uma zona relacionada com a fala, poderá envolver “apenas” uma ligeira afasia (alteração da fala).

Os sintomas habituais que representam lesões mais significativas são: desvio labial (“boca ao lado”), incapacidade de mexer o braço e/ou a perna de um dos lados.

No entanto, sintomas de curta duração, como perda súbita de visão que depois regride, desorientação, perda de força ou sensação de “adormecimento” (na face, com pequenos desvios labiais, ou num membro), dor de cabeça súbita, intensa e fora do habitual; tonturas ou perda súbita do equilíbrio, especialmente se acompanhada de alguns dos sinais anteriores, devem levar a pessoa a procurar o seu médico para investigar se ocorreu ou não um AVC. E pelo risco de um próximo AVC poder ter consequências mais intensas.

O que fazer?
Reconheça os sintomas de AVC pedindo à pessoa para:

• Sorrir (note se a boca entorta)
• Levantar os braços (observe se não tem força e se levanta apenas um)
• Dizer uma frase simples (aperceba-se da dificuldade em articular palavras e pensamentos)

Chame o 112, sem demora!
• Solicite a Via Verde do AVC para que o doente seja conduzido a um hospital que possua uma Unidade de AVC
• Lembre-se: algumas terapêuticas actuais destinadas a reduzir as consequências de um AVC só podem ser aplicadas até cerca de três horas após o início dos sinais
• Falsos mitos: tentar que o doente se levante, ande, agite os braços, massaje o peito ou tussa

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